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Metadados Convida2 de julho de 2025

Inovação e protagonismo: os ensinamentos das Gêmeas do DP

Em entrevista ao Metadados Convida, Tati e Cati Castro falam sobre o novo perfil do profissional de Departamento Pessoal

Inovação e protagonismo: os ensinamentos das Gêmeas do DP

Quando falamos em Departamento Pessoal, muita gente ainda pensa só nas tarefas operacionais. Mas o papel do DP vai muito além: envolve acompanhar mudanças trabalhistas, interpretar leis, auxiliar no planejamento financeiro da empresa e usar dados para apoiar decisões da gestão. O Departamento Pessoal mudou nas últimas décadas graças ao uso da tecnologia. Mas, e agora, o que vem pela frente?

Para falar sobre isso com propriedade, convidamos duas vozes que vêm transformando o jeito como o DP é visto no Brasil: Cati Castro e Tati Castro, as Gêmeas do DP. Empresárias, professoras e coordenadoras de pós-graduação, elas são referência quando o assunto é legislação trabalhista, previdenciária e desenvolvimento profissional. Com milhares de seguidores e atuação em grandes empresas, ajudam a valorizar um trabalho essencial, mas que muitas vezes é invisível.

Nesta entrevista concedida ao Metadados Convida, a dupla esbanja carisma e bom humor para falar sobre os desafios e os pontos altos do DP. Confira os principais trechos!

Metadados: Com tantas mudanças — como o uso crescente de automações e da Inteligência Artificial —, o que os profissionais de DP precisam fazer para acompanhar esse novo cenário, sem perder a segurança na rotina?

Cati Castro: O primeiro ponto é a forma como a gente enxerga. Então, a gente precisa ter flexibilidade para se adaptar ao novo. O novo, muitas vezes, assusta, mas basta ver ao nosso redor como que hoje é a nossa vida enquanto consumidor. Até pouco tempo atrás não existia a quantidade de conteúdo digital que a gente tem para aprender, para se atualizar, a forma como a gente consome, compra as blusinhas, nem se fala (risos). Então, se for ver, o papel da tecnologia mudou, não só a nossa forma como ser humano, como cliente, mas também a forma como somos profissionais de DP e RH. Basta parar para pensar há cinco anos.

A Tati está há 12, 13 anos na área, estou há quase 14 anos, mas se a gente parar para pensar de 10 anos para cá muita coisa que mudou. Então, muitas situações que eram no papel, tinha que ir lá na Caixa Econômica, ficar três horas para ser atendido, para dar errado o pedido do PIS. Hoje em dia a gente não tem mais isso. Então, a inovação vem até do próprio governo, não é só da gente. Se hoje eu ainda tenho profissionais que são resistentes à mudança e não entendem a necessidade e principalmente a importância da tecnologia, são profissionais que daqui a pouco estarão para trás no mercado de trabalho.

E isso não sou eu que estou falando, basta ver vagas de emprego. Hoje em dia, obviamente que eu preciso de um bom conhecimento em legislação trabalhista, em cálculos, eSocial. Isso não é mais um diferencial, é uma obrigação, é a base. Mas quando eu tenho um profissional que entende o papel da tecnologia e coloca isso no seu dia a dia, ele é muito mais preparado e não é para o futuro não, é para agora e para o presente.

O DP está crescendo muito. Profissionais que vêm sendo reconhecidos, começam a ter destaque, começam a ocupar cargos estratégicos dentro da empresa, mas eles estão unindo conhecimento teórico e legislação com a tecnologia. E isso transforma a vida, sem dúvidas, porque a gente vive isso no nosso dia a dia.

Tati Castro: E, de fato, o que a gente precisa, para ontem, é se adaptar à mudança. Tem uma frase que fala que aquele que sai à frente do outro não é o mais inteligente, não é mais bonito, mas sim aquele que consegue se adaptar às mudanças. A gente percebe muito isso dentro da nossa profissão, porque cada dia tem uma novidade, mas se a gente não para para se atualizar e, principalmente se adaptar à mudança, nós vamos ficando para trás e o sistema vai, de fato, engolir na nossa profissão. Não tem para onde fugir, hoje tem que andar de mãos dadas com a tecnologia.

Metadados: Ainda existem muitas empresas que colocam o DP apenas como uma área operacional — e às vezes até o próprio profissional se limita a esse papel. O que muda, na prática, quando o DP assume uma postura mais inovadora e conectada com o futuro?

Tati Castro: Existe uma diferença sobre o DP operacional e estratégico. O estratégico traz a tecnologia para a tomada de decisão. Qual que é a principal diferença que eu vejo nesses dois perfis? O DP operacional, que a gente sabe que a grande maioria ainda está fazendo essa parte, é o DP reativo. Sabe aquele apaga incêndio? Só entra em ação depois que tem um problema? Esse é o DP operacional. Tive um problema na rescisão, tive um problema na admissão, eu resolvo depois que aconteceu. Quando a gente fala de estratégia, estou falando de um DP proativo, aquele que tem dados, aquele que observa o nível de falta, de atraso, de hora extra, e se senta na tomada de decisão com o gestor. Hoje o Departamento Pessoal tem todos os dados na mão. E quando a gente tem dados, a gente convence. Todos os números estão aqui (na palma da mão) e muitas vezes a gente está focado no operacional, apagando incêndio. Para mim, hoje, essa com certeza é a maior diferença.

Cati Castro: Quando a gente olha para o DP operacional e o não operacional, tem uma grande diferença. Recentemente teve uma publicação do próprio LinkedIn, que listou as 25 profissões que estão em alta durante esses três anos. Para minha surpresa, tem lá especialista em folha de pagamento. Ele não falou que é o auxiliar de DP ou o estagiário. Nada contra, pelo contrário, todo mundo começa. Mas ele está falando daquela pessoa que entende de lei e também de tecnologia. Essa pesquisa mostra o quanto nós precisamos unir, nos capacitar e junto colocar tecnologia para usar o papel estratégico dentro da empresa. É orientar o gestor.

Eu sempre gosto de contar um caso que eu tive, isso marcou minha carreira. Eu recebi um cliente, que era desonerado. Para quem entende desoneração, sabe que é bem complicado, é bem complexo para entender. Ele chegou para mim em maio, quando a empresa não pode mais retroagir (na opção pela desoneração ou não). Se ela optou pela desoneração, é o ano inteiro. Quando eu fui observar a receita, o faturamento que ela tinha, com o valor total da folha de pagamento, ela estava pagando todo mês cerca de R$ 12 mil a R$ 15 mil a mais. Se em janeiro tivesse feito o recolhimento correto ou a orientação correta, esse é o valor que ela não estaria tirando do caixa dela. É um valor que poderia investir em benefícios para os colaboradores, poderia investir em várias coisas. Teve que ficar durante o ano inteiro pagando por algo que poderia ser visto antes.

Essa é a diferença do DP operacional. É aquele que olha para o resultado, é aquele que olha para o negócio. O DP tem que quebrar essa barreira de ser só operacional. Eu sei que a rotina é desgastante. Eu falo isso porque a gente vive isso. É prazo, é cobrança, é muita mudança. Eu sei que o tempo é muito curto. Mas enquanto eu estiver olhando somente para a operação, só para apagar incêndio ou achando que tudo é pastelaria, eu não consigo ter um olhar mais analítico, mais detalhado. Vou continuar errando, entregando as coisas fora do prazo ou em cima da hora, e gerando insatisfação de todo mundo. Porque de nada adianta eu falar de um treinamento e desenvolvimento, de nada adianta eu falar de um clima organizacional, se o básico não está sendo bem-feito.

Não existe clima organizacional que seja muito bem avaliado, uma avaliação de desempenho perfeita, se o salário está em atraso, se o vale-transporte foi descontado errado. Então, quando eu olho para isso, eu olho para a base, eu começo a ter resultado. E para finalizar essa minha fala – gente, quando falo sobre isso eu me empolgo (risos)... DP é sobre números e pessoas. A gente não tem que ter essa barreira limitada que: “ah, não, mas empregador...”. Não, uma empresa foi feita para dar lucro. E nós somos o coração da empresa, a gente está falando de números e de pessoas. É algo muito importante. Quando eu entendo isso, eu começo a virar esse jogo.

Metadados: Para a maior parte das empresas, a folha de pagamento é o maior custo, inclusive. Então passa pelo DP um dos maiores ou o maior custo do negócio.

Tati Castro: Sim, na verdade a gente vê como custo, mas tem que virar essa chave, tem que ser investimento. Se não tem pessoas, não tem lucro. Logo, é investimento. Eu lembro que uma vez, isso deve ter uma média de uns nove anos, uma frase de um cliente marcou minha vida. Ele falou assim: “Tati, você só me manda boleto. Quando eu penso na Tati, eu penso em dinheiro saindo do caixa”. E naquele momento eu pensei: “Poxa vida, sou eu que estou agindo assim com ele. Eu só entro em contato para mandar guia de FGTS, para mandar INSS, para mandar cálculo de rescisão, para mandar boleto de sindicato”. Por isso que o DP é visto muito como custo. A gente tem que virar essa chave e mostrar como investimento. Naquele momento eu fiquei pensando muito sobre aquela frase que ele soltou brincando, mas que eu levei para o coração.

Cati Castro: Não, foi real, não foi brincadeira, não.

Tati Castro: É, foi bem real. Não foi brincadeira, não.

Cati Castro: Ah, menina do boleto, vou chamar ela de menina do boleto. (risos)

Metadados: Muitas mudanças geram insegurança nos profissionais. Como lidar com o medo de errar e com a pressão por estar sempre atualizado?

Tati Castro: Bom, o primeiro ponto é saber que você vai ter medo. Isso é normal.

Cati Castro: E que vai errar.

Tati Castro: Não existe aquela pessoa que bate o pé e fala “eu nunca erro”. Erra, sim. Eu costumo falar que os melhores também erram. Eu tinha uma turma da pós que ficava zoando comigo: “Gente, os melhores também erram, eu também erro” (risos). Só que a gente precisa, de fato, aprender com o nosso erro e o erro do outro. Eu não tenho que esperar acontecer algum problema para depois resolver. Lembra do DP reativo e proativo? Primeiro ponto, temos que ter a consciência de que teremos medo, dependendo da mudança, e também a gente vai errar em algum processo.

Só que a gente está no mercado de trabalho que, de fato, tem a pressão. Enquanto eu tenho a parte burocrática, que não tem como fugir, cumprir prazos, legislação, tudo bonitinho, eu preciso me adaptar para ontem, às novas mudanças que vão ocorrendo.

Por exemplo: pode ser uma mudança muito boba, mas eu sei que hoje em dia tem muitas pessoas que, para fazer um cálculo, têm que ter uma calculadora na mão. Se for para fazer pelo computador, ela não consegue. Ah, eu quero consultar uma data. O que ela tem na mesa? Um calendário. Eu falo isso porque hoje a gente pode, quando fala de tecnologia, pensar em coisas mirabolantes, aquele negócio todo sofisticado, e não é. Tem que começar pelo mínimo. Então, se você é o perfil que gosta muito do papel, é muito operacional, começa pelo básico. Tira uma calculadora, faz pelo notebook, tira um calendário, faz uma agenda no Google, algum outro aplicativo, para você começar, entrar na parte tecnológica e começar para ontem. Porque a gente tem coisas muito avançadas e isso facilita muito a nossa jornada.

Quando eu tirei a calculadora de mim e o calendário, parece que eu não rendi, eu ficava perdida. Já hoje em dia, o meu trabalho é meu notebook, minha garrafinha de água, zero papel. Para mim é tudo na tecnologia. Ferramenta de lembrete, sistema em nuvem, absolutamente tudo, eu tenho hoje na palma da mão. Isso facilita muito a nossa rotina.

Cati pega uma agenda

Tati Castro: Lá vem a Cá, falar do papelzinho dela.

Cati Castro: Eu sou o perfil de pessoa que gosta do notebook, mas as minhas anotações diárias estão do meu lado.

Tati Castro: Agora, sou a pessoa que eu vou retrucar. Não estranhe, porque a gente gosta de trazer esse ponto assim, o perfil dela (Cati) é polêmico. É legal, tem gente que gosta do papel como a Cati. Ela pode gostar do papel, só que um dia ela está trabalhando de escritório. No outro dia, a gente tem um evento, está longe e cadê a anotação das tarefas do dia? Eu gosto de deixar no meu celular e no meu notebook, porque geralmente são esses dois equipamentos que a gente anda para tudo que é lugar.

Cati Castro: E é compartilhado, né?

Tati Castro: E é compartilhado, então ela (Cati) sabe qual é a minha rotina de hoje, a minha agenda. Se eu deixo meu papel na minha casa e estou no Sul (onde a entrevistadora está) com você, como que fica? Então, eu trouxe aqui meu ponto polêmico.

Cati Castro: É, acho que eu me dei mal agora, viu? (risos) Eu tenho que mudar meu pensamento. Eu gostaria de acrescentar algo aqui na fala dela que eu acho muito interessante quando eu falo de erro, de pressão no dia a dia. Eu vejo que o principal ponto nesse sentido é o autoconhecimento. Porque antes de um profissional, tem um ser humano. Um ser humano que tem muitos sentimentos, tem medos, tem ansiedade.

Não adianta a gente falar que a vida pessoal não interfere na profissional, porque interfere muito. Quando a gente se conhece, sabe das nossas limitações, das nossas fraquezas, consegue lidar muito melhor com aquele erro. A forma como eu vou lidar com o erro é diferente da Tati, é diferente de você que está aqui com a gente. Então, quando a gente se conhece, é diferente. Quando eu erro com algo, eu fico muito chateada, eu me sinto a pior profissional do mundo. Depois, passa, eu sigo, pego aquilo como lição, não vou errar de novo isso aqui. Se você tivesse ideia, o tanto de boleto de sindicato que eu já deixei de mandar na vida, eu não sei nem o que eu estou fazendo no DP hoje, entendeu? Darf, que uma vez vinha separado, Darf de sócio. Tem um monte de sócio por aí que eu acho que até hoje não recebeu IRF. Olha, eu não me expondo, gente (risos). Vida real, isso acontecia, não mais.

Tati Castro: Não mais, porque unificou agora.

Cati Castro: Unificou. Ainda bem. Mas há alguns anos, início de carreira, obviamente, eu tinha esse problema, então eu comecei a me cobrar muito. Mas quando a gente se conhece, sabe o nosso perfil é diferente. E para dar uma aliviada na pressão do dia a dia, nas cobranças, procurar fazer algo que te faça muito bem. Sabe, às vezes, são dois minutinhos que você para e lê um versículo da Bíblia, dois minutinhos que você para e vai ler sobre algo que você gosta, um romance. No horário de almoço, conversa, liga para o seu filho que você ama. Quem tem oportunidade ainda de ter mãe, liga para sua mãe, conversa. Procura fazer algo para dar uma aliviada, porque a pressão é muito grande. E, de verdade, eu vejo que no futuro, que já é o hoje, essa pressão vai acabar aumentando. E não é só sobre o DP, não. São todas as áreas. Porque o ser humano está na agilidade, está numa pressa, que é tudo para ontem que se a gente não tem uma saúde mental equilibrada, a gente não se conhece, infelizmente, a gente sabe que fica muito complicado lidar com esse tanto de pressão. Para mim, é tranquilo, porque eu tenho minha irmã do meu lado (risos). Então, deixa a pressão mais leve. Se um dia eu estou estressada, eu falo: “Tati, eu vou sair do DP”. Ela fica: “Não, Cá, fica”. E aí, enquanto isso, eu tenho a motivação diária aqui do meu lado.

Metadados: Vocês acreditam que as tecnologias mais avançadas podem substituir o trabalho humano no DP? Ou elas vêm justamente para dar mais controle e confiança ao profissional?

Tati Castro: A minha resposta é depende. Depende de como o Departamento Pessoal está trabalhando. Por exemplo, se eu tenho um DP que só faz Pró-Labore e admissão, faz o básico do básico. Hoje em dia, tem sistema que faz isso. Essas pessoas aqui muito básicas, muito auxiliares, vão perder para a Inteligência Artificial. Mas em contrapartida, lembra do LinkedIn que a Cati comentou? O especialista nunca será superado por uma Inteligência Artificial, porque a gente está vivendo em um momento de muita parte robotizada. Sabe quando se liga no convênio médico e você quer tirar uma dúvida? Digite um, digite dois, aí tem aquele monte de coisa que você fala. Eu só quero falar com a atendente. Então eu vejo que hoje, qual é o grande diferencial do DP para ficar à frente da tecnologia, da Inteligência Artificial, que é a nossa aliada? É a parte de consultoria. A Flavia teve uma dúvida na folha de pagamento. Ela não vai ficar digitando, digite um para tirar dúvida de admissão. Digite dois para dúvida de rescisão. A Flavia quer ligar e quer tirar dúvida sobre aquele valor do décimo terceiro.

Cati Castro: Ou ela vai colocar a rescisão no Chat do GPT e falar: analisa para mim.

Tati Castro: A Flavia vai falar o quê? Eu quero ligar para aquela moça do DP, aquela especialista, e eu vou falar com você. Que é, de fato, atendimento humanizado. Hoje, tecnologia vem para ajudar na rotina, para quem é especialista. A gente está vivendo uma era que é muita Inteligência Artificial e pouca inteligência humana. Então, a gente precisa focar na inteligência humana para ter um melhor atendimento humanizado para o nosso cliente. Quem fizer isso terá, digamos, a melhor pessoa do mundo.

Cati Castro: A inteligência artificial é um mar de oportunidades também.

Tati Castro: Vai trazer dados... Principalmente, traz tempo e menos erro. Mas a parte de consultoria e contato humano, essa nunca vai ser superada.

Cati Castro: É, mas se pensar naquele profissional que só aperta o botão, que faz tudo no automático, ele corre um sério risco. Então, o profissional que não se atualiza, que está ali fazendo a mesma coisa há 20 anos — a gente sabe que isso existe — é um profissional que está arriscado nos próximos meses e nos próximos anos. Se ele não buscar estar por dentro das inovações, das atualizações, ele pode, sim, ser substituído.

A gente vê isso no dia a dia como consumidor. Quem aqui gosta de ir ao MC (Donald’s), hoje em dia dificilmente tem uma atendente no caixa para pegar o seu pedido. Você faz aonde? Naqueles caixas de autoatendimento. Se vai em um mercado, você passa sua compra. Então, são situações do nosso dia a dia que eu posso parar para pensar e refletir dentro da minha área: “Se é um trabalho que é extremamente repetitivo e é totalmente manual, eu tenho um robô que vai fazer isso melhor que um ser humano”.

Tati Castro: E muito mais rápido.

Cati Castro: É, então basta parar para pensar que hoje em dia eu tenho vários softwares de folha de pagamento que já automatizam boa parte da minha folha. Aquele trabalho, por exemplo, de um estagiário que é repetitivo, que não está evoluindo, ele pode correr um risco também. Então, de novo, falei do estagiário, porque geralmente começa por algo ali básico. Mas até mesmo quem está iniciando na área tem que tomar esse cuidado. Eu estou iniciando na área, eu irei aprender muita coisa, mas eu preciso ter esse cuidado para não me tornar a pessoa que o robô poderia estar fazendo aquele trabalho. Essa é uma provocação que a gente traz para cada um analisar. E isso não é sobre cargo, não é sobre posição, é sobre a sua execução. São coisas totalmente diferentes.

Metadados: Minha pergunta é sobre isso, justamente, para quem está começando na área. Como dar os primeiros passos? O que fazer primeiro?

Cati Castro: Minha primeira orientação: não entra enquanto é tempo (risos). Brincadeira. Depois é um caminho sem volta, tá?

Tati Castro: Você vai gostar tanto que não vai querer mais voltar (risos).

Tati Castro: Realmente, é uma pergunta que a gente fica refletindo, porque nós sabemos que quem está começando, é muito difícil as empresas darem uma oportunidade, porque exige experiência, e a gente sempre se pergunta: como posso exigir experiência se as empresas não dão oportunidade? Aqui no nosso escritório, praticamente 100% de todas as colaboradoras que a gente teve, a gente pegou do zero. É uma estagiária, está saindo da faculdade, a gente pega literalmente na mão e ensina tudo bonitinho. Só que essa pessoa precisa demonstrar interesse e esforço. Eu, Tati, falando como gestora, sempre comento: o meu problema não é a pessoa não saber, é não se interessar em aprender. Você não precisa dominar tudo disso, porque é impossível, mas você precisa demonstrar interesse e saber que tem uma tecnologia que vai te ajudar no dia a dia.

Cati Castro: E isso a gente consegue perceber, né? Se você pega uma pessoa que está querendo entrar na área, que quer começar, uma ótima dica é você começar indo em eventos. Participa de eventos, participa de palestras, tem muita coisa boa, gratuita. Participa de webinars, vai pegando certificados. Isso vai mostrar que você é uma pessoa que não tem experiência, mas que está em busca. Isso é um baita diferencial.

Tati Castro: Mostra que é uma pessoa conectada. A gente já tem aquela ilusão de que: ah, eu vou entrar na empresa, o fulano vai me ensinar. Não, o esforço vem do outro lado também. E quando a gente tem a tecnologia disputando o mesmo espaço, aí que a gente precisa mostrar o diferencial. “Tati, comecei agora. Como que eu demonstro o meu diferencial?” Demonstrando interesse e, principalmente, procurando se capacitar o quanto antes para fazer atendimento. Lembra que eu falei? O atendimento não será substituído. Então, o quanto antes aprender o processo, entender a legislação, começar o atendimento e se tornar especialista, melhor ainda. Mas, de fato, não é um caminho fácil a percorrer.

Cati Castro: E, claro, criar networking, relacionamento, conexões. Por isso que participar de eventos é fundamental. Porque, às vezes, a porta que você precisa está do seu lado. É uma conexão que você faz na sua vida que vai mudar completamente a sua trajetória. Então, sair um pouquinho da caixinha, pensar justamente nisso para buscar entrar no mercado. E, de verdade, uma vez que você entra na área de DP, você não fica sem emprego. Não fica rico. Eu acho que já desisti dessa hipótese. Mas tem emprego. Dá para comprar uns MCs (risos). Então, a pandemia trouxe isso. Enquanto muitos estavam desempregados, se tem uma coisa que a gente teve foi trabalho.

Metadados: E olhando para o futuro… o que vocês acreditam que vem por aí para o Departamento Pessoal? Quais tendências ou transformações já estão batendo na porta?

Cati Castro: Bom, primeiro ponto: inúmeras mudanças na própria legislação e sistemas do governo. Isso é algo que já faz parte da rotina. Eu nem diria que é o futuro. Mas, com certeza, a principal tendência para o futuro muito próximo, diria que daqui um ano, dois anos, é cada vez mais a gente desenvolver nossas competências, nossas habilidades comportamentais. Eu preciso ter aquele profissional que é um combo completo. Ele é muito bom na operação, mas ele sabe muito bem se comunicar, que é a principal tendência do DP. Não é a pessoa que está gravando um vídeo, está palestrando para mil pessoas. Não é sobre isso. Mas é saber se comunicar bem, ser assertivo, saber explicar para um cliente, saber que cada um tem um perfil diferente para entender aquilo que eu estou informando. Com certeza, a tendência que já vem dominando o DP e vai crescer cada vez mais é a comunicação. Esse tipo de habilidade é fundamental.

Mas também a parte de inteligência emocional, que vai ao encontro do que você perguntou: pressão, cobrança. Cada vez mais isso vem aumentando. Então, se eu não tenho um equilíbrio emocional e não sei me comunicar, eu começo a encontrar muitos desafios pela frente, porque essa comunicação é com o meu cliente, é com o meu gestor, é com os meus colaboradores, é com o governo. A todo momento, a gente se comunica. Essa é uma tendência que vem crescendo muito: comunicação. Essa, sem dúvidas, para mim, é o que ganha disparada entre outras habilidades, como a própria flexibilização. Ter a flexibilidade no seu dia a dia, ter um jogo de cintura para poder lidar com as situações do dia a dia também é fundamental.

Tati Castro: Só complementando o que a Cati disse, eu acredito que as relações de trabalho vão mudar muito daqui para frente, principalmente com a entrada muito forte da Geração Z do mercado de trabalho. A gente vê que o perfil deles vem completamente diferente das outras gerações. E o governo vai ficando de olho, vai se adaptando de forma lenta, mas aos poucos vai se adaptando. Então, eu vejo que, com o passar dos anos, a nossa CLT vai ter muitas alterações. Ficar de olho nessas mudanças é fundamental. Então, precisa ter uma boa comunicação, ter uma boa inteligência emocional, mas, de fato, acompanhar quais são as tendências e mudanças que vêm de acordo agora com a Geração Z. Já tive até um relato de uma menina que pediu demissão da empresa porque não estava conseguindo ir para a academia. E como que a gente acaba lidando com esses conflitos de geração. Isso interfere muito na relação trabalhista. Muitas vezes, empresas menores não têm um RH, não têm um advogado, mas têm um Departamento Pessoal. Pode ter certeza de que esse gestor vai perguntar para o pessoal do DP. Será que a gente está preparado para poder sanar essas dúvidas e trazer soluções?

Cati Castro: É, e talvez você fique até pensando: “Nossa, mas o que tem a ver a geração Z com o DP?” Tem tudo. Porque se eu tenho um benefício que, hoje em dia, a Geração Z prefere nesse formato, ok. Mas esse benefício tem embasamento legal? Como é que eu vou conceder isso para o empregado? Como é que eu vou pagar? Isso vai ter incidência? Qual o custo que eu vou aumentar da minha folha de pagamento? Então, o DP tem que se adaptar a essa mudança também.

Eu sempre falo que o DP é chique. Porque eu vou impactar diretamente no caixa da empresa se eu faço a contratação errada, por exemplo. Era para contratar no contrato X, fiz no Y, custo errado. Impactou financeiramente. Ah, e vai impactar onde? Geração de emprego. A gente está passando aonde? No jornal. Às vezes, você está almoçando, está jantando, aparece notícia: De acordo com os dados do CAGED, a quantidade de empregados admitidos, demitidos. Aí você fala: “Poxa, gente, nem na hora de jantar o DP me esquece”. Mas isso é chique, gente. Olha só, é muito elegante (risos).

Então, pensa que o nosso trabalho vai impactar a empresa. Se eu tenho algo desestruturado, trouxe prejuízo, impacta o financeiro daquela empresa. E, consequentemente, pode impactar na geração de emprego também. É algo muito complexo. Por isso que mudanças de geração, novas profissões que vêm surgindo. Tem profissão que é regulamentada? Ela pode? Ela existe? É proibida? Espera aí. Então, tudo isso a gente tem que estar por dentro também, que é um baita desafio, viu?!

Tati Castro: É muita pressão.

Conheça quem escreveu o artigo

  • Flavia Noal
    Flavia Noal

    Flavia é jornalista com 15 anos de experiência em reportagem, produção de programas de rádio e assessoria de imprensa. Atualmente, é produtora de conteúdo da Metadados com atuação voltada aos diversos assuntos da área de Recursos Humanos.

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