Como a aprendizagem aperfeiçoa habilidades e aumenta o engajamento
Descubra como o desenvolvimento contínuo das equipes fortalece a colaboração e contribui na retenção de talentos

Vivemos em um mundo em que a inovação é exigida a todo momento, e a liderança desempenha um papel fundamental nesse processo de transformação. Mas como ela se traduz no ambiente de trabalho? Em vez de nos limitarmos a métodos tradicionais de aprendizagem, muitas vezes repetitivos e engessados, é hora de explorar novas formas de aprender.
O palestrante e professor Edu Valladares propôs o conceito de Aprendabilidade®, que se baseia na ideia de aprender com a vulnerabilidade. Neste artigo exclusivo para o blog da Metadados, ele compartilha como essa abordagem pode ser uma ferramenta poderosa para o desenvolvimento de habilidades e o engajamento das equipes.
Aprendabilidade®: um conceito para impulsionar habilidades
Como as atuais e futuras lideranças do mercado podem atuar na promoção de uma cultura organizacional que valoriza a aprendizagem contínua e a disposição para lidar com a vulnerabilidade?
A rigor, nos ambientes de empresas e corporações, as palavras inovação, reinvenção e criatividade surgem como bandeiras a serem balançadas, mas que, quase nunca, ressoam mudanças verdadeiras.
Na prática, as visões de aprendizagem ainda estão sustentadas em metodologias antiquadas, burocráticas e tradicionais - palestras monótonas e monológicas, treinamentos inócuos, defasados e repetitivos que nem alguns insistentes e resistentes modelos escolares - uma pessoa fala e o restante apenas "copia e escuta".
Para criar uma mudança nesse panorama, é preciso considerar a vulnerabilidade como força motriz dentro dessa ótica da aprendizagem e, mais ainda, entender como que isso se torna uma habilidade extremamente necessária para o atual cenário do mundo do trabalho.
A forma como as pessoas encaram os modelos de trabalho está mudando. Assim como aprendem, também. Não tem como enxergar que, simplesmente, acumulando mais informações sobre notícias, pesquisas, tendências, estaremos mais a par das inovações da aprendizagem.
Precisamos saber como fazer. E, ainda que busquemos um livro ou manual com todas essas dicas prontas, isso não tem como acontecer na prática. Mas existe a habilidade de aprender com vulnerabilidade que proporciona esse aprendizado efetivo e de forma muito mais realista e verdadeira.
Diversos estudos apontam que a valorização de nossas experiências, o desenvolvimento de habilidades, a aceitação da vulnerabilidade como prática e as novas formas de aprendizagem serão os temas-guia do futuro da educação e do trabalho.
Inclusive, de acordo com Gary Bolles, especialista em Futuro do Trabalho pela Singularity University e autor do livro As Próximas Regras do Trabalho, “não tem como separar o futuro do trabalho do futuro da aprendizagem".

Aprendabilidade® — a habilidade de aprender com vulnerabilidade
A maneira como estamos aprendendo está nos levando para o futuro ou está repetindo padrões que já estão obsoletos? Sabemos usar nossas habilidades a nosso favor? Estamos aprendendo a usar nossas habilidades ou a desenvolvê-las? A resposta e a solução, de acordo com a minha visão, para o futuro estão no conceito da Aprendabilidade® — a habilidade de aprender com vulnerabilidade.
A Aprendabilidade® é um neologismo, uma palavra livremente baseada no termo learnability, em inglês. O termo “learnability” é utilizado em diversos domínios, mas sua origem vem do design, que tem a ver com a usabilidade de um produto e costuma estar relacionado com o design de experiência do usuário (UX). De forma simples, podemos dizer que “learnability” é a facilidade como o uso de um determinado produto é aprendido.
Importante trazer essa definição pois outro neologismo surge através de “learnability”, que é a palavra “aprendibilidade”. De certa forma, a aprendibilidade não deixa de ser uma habilidade: nesse caso, a habilidade de aprender. Há quem relacione a aprendibilidade com uma certa habilidade em manter-se atento para sempre estar disposto a aprender, justamente em um mundo que pede transformações processuais rápidas. Portanto, a aprendibilidade seria a habilidade em aprender de forma ágil para manter-se atualizado.
Mas e a Aprendabilidade®?
A Aprendabilidade® também é uma habilidade. No entanto, seu significado e proposta são totalmente diferentes da learnabilty ou da aprendibilidade por dissimetrias simples, mas brutais: a Aprendabilidade® é um conceito calcado pela aprendizagem, pela vulnerabilidade e pela experiência.
Por isso, afirmo: a Aprendabilidade® se coloca como uma nova espécie de cultura sobre o aprender, porque ela leva em consideração: o sentir, a experimentação, o erro e a estratégia. É composta por uma série de ferramentas baseadas nas soft skills, na educação socioemocional e na habilidade do desenho de vida.
Trata-se de um conceito sustentado por fundamentos que formam o tripé C.H.E: [Conexão | Habilidade | Estratégia]
Como gerar conexão?
Como identificar, reconhecer e despertar habilidades?
Como criar e desenhar estratégias?
1) Conexão:
Conexão é encantamento, é generosidade, é escuta, é afeto, é empatia, é confiança, é sensibilidade, é gentileza. É estar em uma posição de abertura para reconhecer as pessoas e as pessoas se reconhecerem em você. Ambientes seguros inspiram criatividade. Ambientes com segurança psicológica criam espaços de colaboração, de troca e permitem a manifestação de desejos.
2) Habilidade:
Ferramenta de autoconhecimento; característica inerente, faz parte de nós. Por isso, deve ser identificada, reconhecida, despertada e impulsionada. Habilidade é quando pensamos em autoconsciência, autocontrole, autoconfiança, autorresponsabilidade, autenticidade, autonomia. São os 6A´s que contribuem no desenvolvimento dessas habilidades para pensar em nosso futuro.
3) Estratégia:
É a realização de um desenho único, a partir do reconhecimento de suas habilidades, do que você pretende fazer, do que você gosta, do que você sente e de quem você é. Para isso, é necessário aprender a pensar como um designer.
Quando pensamos em estratégia, estamos falando de desenvolver hábito, disciplina, método, criatividade, accontability, design. E aqui, uma observação importante: a palavra design, em sua etimologia, traz a raiz (designium) que se traduz por significado. Por isso, quando estamos defendendo esse pilar, na prática, estamos falando de aprender a desenvolver significado naquilo que fazemos e aplicamos.
Ciclos de aprendizagem

São os fundamentos que conectam, sustentam e geram a Aprendabilidade®, em um sistema sequencial, interdependente e aplicável através de caminhos e planos de ação. Como aponta o Fórum Econômico Mundial, no Report “Defining Education 4.0: A Taxonomy for the future of Learning”, o futuro da educação está no empoderamento de aprendizes para abraçar e desenvolver suas qualidades e habilidades únicas e humanas.
Faz sentido até aqui? Para terminar essa conversa, saindo com uma ideia completa do que estamos defendendo, voltemos alguns passos: e a tal da vulnerabilidade? Vulnerabilidade é uma palavra de muitos sentidos.
O que vem à sua mente quando pensa em vulnerabilidade?
a) Fraqueza?
b) Fragilidade?
c) Ausência?
A noção de vulnerabilidade mais aceita na língua portuguesa — e a mais abordada em estudos acadêmicos — parte da ideia de incapacidade ou capacidade diminuída dos sujeitos para lidarem com situações estressantes pela falta de acesso a informações, suporte social e situações de risco.
Essa não é a definição que acreditamos. Trouxe para nós o conceito de vulnerabilidade trabalhado na língua inglesa - vulnerability - baseados na concepção da pesquisadora Brené Brown:
A vulnerabilidade não é algo bom, nem ruim, mas o centro de todas as emoções e sensações: sentir é estar vulnerável. Vulnerabilidade não é fraqueza; a incerteza, os riscos e a exposição emocional que enfrentamos todos os dias não são opcionais: são parte da vida e devemos aceitá-los para uma vida mais digna e de acordo com o que acreditamos que é o melhor caminho para nós.
Aprender significativamente torna-se um ato de coragem - ato que vem de um lugar de vulnerabilidade. Para isso, é necessário se desprender de um lugar de segurança e conforto.
Então, o grande papel das lideranças é criar e desenvolver um ecossistema de aprendizagem, a partir de iniciativas como:
1. A curiosidade para se aprender com o novo;
2. a criação de um verdadeiro espírito colaborativo, a partir do levantamento de comunidades;
3. a ampliação de diversidade de ideias, visões e pensamentos dentro de uma equipe - quanto maior a divergência, maior a convergência
4. o investimento na [tentativa-erro-ajuste-tentativa de novo] para se alcançar uma visão de pensamento design-driven;
5. definição de estratégias e caminhos construídos com métodos, planejamentos e rotinas.
Reflexão final
Aprender é um ato de coragem, é um ato que vem de um lugar de vulnerabilidade. Para aprender, é preciso abraçar o não-saber.
- Será que sou suficiente?
- Será que ainda sou útil?
- Será que vai dar certo?
Começar qualquer projeto - seja pessoal ou profissional - exige coragem, ousadia, determinação, foco e vontade. Já parou para pensar quantas vezes você costuma levantar essas perguntas acima? Quantas vezes você travou por conta da vergonha e do medo?
Aprender é um ato de extrema vulnerabilidade. Para isso, é preciso saber gerenciar a incerteza, assumir o risco da perda e lidar com uma exposição à crítica. Costumo dizer, em minhas apresentações, mentorias, projetos e palestras que: “você não tem medo ou vergonha de tentar. você tem medo ou vergonha de errar.”.
Por isso, se você quer aprender, precisa dar permissão para a falha, abrir espaço para as perguntas e para a curiosidade e abraçar o não-saber. Porque aprender, de verdade, também é sobre ter coragem. E não há transformação consistente sem vulnerabilidade.
Gosto muito de uma frase do neurocientista Joseph Kable que diz: “A incerteza é o cérebro dizendo para ele mesmo: tem algo para aprender aqui". A Aprendabilidade® pode ser esse primeiro movimento que você faça para desenvolver um novo letramento em aprendizagem, de maneira que tenhamos um trabalho não apenas mais produtivo, recheado de resultados e performance, mas que se torne, profundamente, transformador.