Foto do Robledo, palestrante sobre as relações humanas no trabalho.

As relações humanas no trabalho nunca foram tão importantes como agora, em um mundo cada vez mais conectado e voltado para a tecnologia. No último CONARH, um dos maiores congressos de Recursos Humanos da América Latina, esse foi um dos temas que mais se destacou — e a Metadados, sempre de olho no futuro do trabalho, esteve presente para compartilhar suas experiências.

Durante o evento, Robledo Luza, nosso diretor de crescimento, filósofo e mestre em educação, trouxe reflexões sobre o tema em uma palestra na Arena do Conhecimento. Ele explorou como o entendimento profundo das relações humanas pode ser a chave para construir um ambiente de trabalho mais saudável e sustentável.

Neste artigo, você vai conhecer os principais pontos dessa apresentação e descobrir como fortalecer as conexões entre as pessoas na organização. E para não perder nenhum detalhe do que aconteceu no CONARH 2024, aproveite e confira nosso vídeo com os melhores momentos desse grande evento!

Pessoas e organizações: reflexões que vão além do senso comum

O filósofo Arthur Schopenhauer, em sua obra “Parerga e Paralipomena”, conta uma fábula que mais tarde ficou conhecida como “O dilema do porco-espinho”. A história é bastante simples: em um dia de inverno, porcos-espinhos, na tentativa de se aquecerem, aproximaram-se mas, devido aos seus espinhos, se machucavam e, por isso, se afastavam novamente.

Por conta do frio, eles voltavam a se agrupar, mas o contato com os espinhos fazia com que logo se afastassem. Com o tempo, foram encontrando um ponto em que tanto a proximidade como quanto o distanciamento se tornaram suportáveis.

Para Schopenhauer, este é um traço das relações humanas e suas complexidades. Existem características "espinhosas" que nos desagradam em outras pessoas, mas a monotonia da solidão faz com que nos aproximemos novamente. Como somos seres gregários, com a tendência de viver em grupo, dependemos dos outros desde que nascemos.

Ao contrário de outras espécies, nascemos muito longe de "estar prontos". Necessitamos, por anos, da atenção e da convivência social para a nossa sobrevivência. Mais do que isso, nos tornamos seres humanos pela vivência no interior de um grupo social e de sua cultura.

Além disso, somos dotados da capacidade de sentir emoções complexas e de criar vínculos, pois precisamos nos apoiar como grupo. Há uma fala, atribuída por alguns à antropóloga Margaret Mead, de que, ao ser questionada sobre qual seria, na sua opinião, a evidência mais antiga de civilização, ela teria respondido: um fóssil pré-histórico de um humano com o fêmur cicatrizado.

O fêmur, o osso mais longo do corpo, ao sofrer uma fratura, sem acesso aos recursos da medicina moderna, leva cerca de seis semanas de repouso para cicatrizar. Logo, estar curado indica que alguém cuidou da pessoa ferida, caçou e coletou alimentos por ela, permaneceu ao seu lado e ofereceu proteção física e companhia humana até que a lesão fosse curada.

“O fator humano está se tornando cada vez mais decisivo”, diz Luza

Foto da palestra do Robledo, sobre pessoas e organizações, no Conarh

No contexto das organizações, o fator humano está se tornando cada vez mais decisivo. Apesar do avanço significativo em termos de ferramentas e práticas de gestão, podemos perceber cada vez mais que são as pessoas, com as suas peculiaridades, que determinam o êxito ou o fracasso dos projetos e das organizações.

Temos uma série de questões abertas e, por vezes, sombrias para lidar: medos, ansiedade, depressão, pânico, dependência química, luto, ideação suicida e outras situações enfrentadas pelos colaboradores e seus líderes. Sem esquecer que o profissional de RH também adoece e sofre.

Por isso, precisamos tratar todas essas questões difíceis de forma aberta. Precisamos fugir da superficialidade e entender mais sobre as pessoas, tendo uma visão unificada do ser humano. Essas questões nos lembram que, por trás de cada cargo e função, existem indivíduos com histórias, emoções e desafios únicos.

De maneira geral, podemos dizer que, sob essa perspectiva, a formação dos profissionais de gestão e de recursos humanos é bastante precária, sendo incapaz de fazer frente a esses desafios. Os currículos das escolas de negócios e das universidades, no que tange à formação de profissionais para a administração das organizações, são pobres em disciplinas como Psicologia, Sociologia, Antropologia e Filosofia.

A superficialidade na abordagem desses temas pode minar o engajamento e a motivação dos colaboradores, impactando diretamente o ambiente de trabalho e a produtividade. Logo, é necessário que as organizações desenvolvam práticas de apoio efetivo, como programas de bem-estar, iniciativas de saúde mental e espaços seguros para o diálogo.

A saúde mental, em especial, deve ser tratada como uma prioridade, considerando que problemas como a depressão, a ansiedade, a síndrome de burnout e o suicídio têm crescido significativamente no Brasil e no Mundo. Isso exige uma nova postura das empresas, que precisam não apenas oferecer apoio psicológico, mas também repensar seus processos, demandas e práticas de gestão para prevenir o esgotamento e o sofrimento emocional dos colaboradores.

O papel do RH é ser um facilitador nesse processo. Ele deve ser a referência em termos de conhecimento sobre pessoas nas organizações, promovendo uma cultura de acolhimento e empatia, onde todos se sintam ouvidos e respeitados. Isso significa ir além das soluções padrão e realmente escutar as necessidades individuais, criando políticas inclusivas e humanizadas. No entanto, para que exerça este papel de maneira qualificada, precisa buscar um nível maior de preparo.

Se, em um primeiro momento, o que se sobressai é o tamanho do desafio, devemos lembrar que a situação atual traz consigo uma série de oportunidades para a área de gestão de pessoas. Quando entendemos as pessoas em sua totalidade, conseguimos construir ambientes mais saudáveis, inovadores e produtivos, transformando positivamente a nossa sociedade.

Banner da Newsletter da Metadados